Como contei, na semana passada fiz um sarau no Ungambikkula. A experiência foi diferente de tudo o que eu já havia feito. Foi rica e, de certa forma, até assustadora. É que o formato do sarau de lá foi de um só leitor (no caso eu), que lê suas obras para um público interessado em ouví-las.
Quando digo assustadora, me refiro ao desafio de ter lido durante uma hora para ouvintes mudos (por assim dizer), tentando não tornar a experiência massante. Para tanto, tentei explorar o espaço, provocar o público, variar os tipos de texto etc.
O resultado, acredito, foi bem interessante e motivador. Pretendo fazer coisas parecidas outras vezes.
Mais tarde vou postar aqui umas imagens do evento. Aliás, nesta próxima quinta haverá outra edição do Kafé & Poesia, desta vez com meu amigo Cássio Correia. Se puderem ir, garanto que, pelo espaço, pelo formato e pela literatura apresentada, será uma experincia, no mínimo, nova e interessante!
O quartinho da bagunça
Blog de divulgação de trabalhos artísticos (musicais e literários) de Diogo Avelino, contendo um pouco de tudo, incluindo as séries em andamento Os Chorões da Escuridão e O Colecionador de Cacos.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Sarau no Espaço Ungambikkula
Pessoal, hoje, das 18h às 20h, estarei apresentando meu trabalho literário no Espaço Cultural Ungambikkula. Quem puder, apareça por lá!
Logo aí abaixo, a propaganda oficial:
Logo aí abaixo, a propaganda oficial:
Olá, pessoal
Dando início ao projeto Kafé & Poesia, no Espaço Cultural Ungambikkula, eu vou me apresentar realizando leituras dramáticas de poemas, cordéis, crônicas e contos (de minha autoria) que passeiam pelo mítico, pela fantasia e pela inventividade que permeiam o imaginário do universo infanto-juvenil nos adultos. Uma apresentação interessante e leve, como um fim de tarde entre amigos, em época de horário de verão, deve ser.
O espaço é lindíssimo e tem um astral fora do comum. Vejam no site:
Vai ser nesta quinta, dia 18 de novembro, das 18h às 20h, na Avenida Santa Isabel, 1834, em Barão Geraldo!
Vejo vocês lá!
Diogo Avelino
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Os Chorões da Escuridão
Desde 2002 escrevo esporadicamente uma série de contos sobre um mesmo núcleo familiar intitulado Os Chorões da Escuridão.
O texto abixo é o primeiro deles:
O texto abixo é o primeiro deles:
Chorõres
De menino, mano chorava muito, chorava e chorava por qualquer corte no dedo, qualquer gosto não feito, qualquer coque no coco. Se levava bolada no campo, jogando c’os filhos dos outros colonos, chorava. É que mano era goleiro, coitado, miudinho e ruim de bola que nem que ele, só assim que jogava. Chorava, mas já era macho! Tanto é que mesmo c’os olhos vermelhos não largava do gol. Foi menino chorão até a morte do Pai.
Pai ficava muito bravo quando via ele chorando, dava peia e tudo, mas Tonho só chorava. Quando Pai tava morrendo daquela moléstia que homem “bota os pulmão pela boca”, chamou mano no quarto dele e falou bem assim – Tonho, sempre me disgostô vê home chorano; fio meu então, huummmm!... Cê sabe que pai tá morreno, mas tá morreno home! Num quero dexá fio fresco não – e Tonho, que ainda tava quieto, engoliu o choro que já tava ali – Cê vai me prometê que num chora mais. Só ansim pai vai tranqüilo – Tonho apertou ainda mais o choro e falou c’os olhos já avermelhando – Mas como é que eu faço? Num chóro porque quero, chóro por que me vem as água derramano dos oio – aí Pai respirou tão fundo, mas tão fundo, que eu pensei que nunca mais que ele fosse respirar. Depois deu um daqueles ataques de tosse nele, daqueles de encher dois canecos de catarro.
Quando se controlou, Pai disse – Óia, fio, pai tamém chora, sabia? – o mano até esqueceu o choro que tava apertado na garganta e quase sorriu – Pai jura que chora? – perguntô meio com medo – Pai chora, fio, mais ninguém num vê não sinhô. Ocê preste muita atenção na história que eu vô contá.
E contou:
Quando pai inda era menino e nem guentava c’o cabo de enxada, Vô viu pai chorano por causa de chacota dos mano, que dava coque e beliscão no pai. Vô iscorreu c’os mano e quando ficô sozinho c’o pai, ralhô com ele e disse – Home num chora não. Engole esse choro muleque! – e eu que era orgulhoso, engoli logo de vergonha do Vô, e preguntei – Pai num chora não? – e pra minha surpresa Vô respondeu – Toda noite! – veno a cara de bobo do pai, Vô riu e continuô – Pai chora toda noite, só que ninguém nunca viu não – então preguntei – Nem mãe? – Menos ainda ela! Mas num pense ocê que pai fica se borrano todo dia que num é ansim não. Pai ouviu dum preto que trabaiava na fazenda uma história muito da sofrida, mas muito da bunita.
Bento, esse era o nome do preto, contô que vida de escravo era muito doída; doía no lombo e no peito, mais no peito que no lombo – Pruque lombo acustuma, mas o peito nunca que vai se acustumá a sê tratado feito bicho – disse que se preto fosse chorá toda veiz que doesse o lombo ou o peito, ia secá que nem a cumbuca d’água que a pretaiada toda bebe na roça – É uma só prum monte de nóis! – tamém num podia ficá trancano tudo na goela quinem que cê tá fazeno agora. Bento insinô pro pai que toda noite, na mema hora, preto chegava num canto donde que ninguém num visse ele e dexava derramá uma lágrima de cada oio. Mais tinha que escorrê na cara toda, podia apará c’oa mão não, tinha que corrê rosto pra lavá toda dô, do lombo ou do peito. Ansim num engasgava c’o choro e nem dexava de sê home – Faz disso uma prece, minino, e nunca mais que cê vai chorá c’os ôtro oiano – me disse o preto – Mais tem que sê toda noite; na mema hora; só uma de cada oio; a cara toda; pode faiá não!
Aí vô falô que ficô cismado e preguntô pro preto:
E se na hora num dé vontade? E se ocê num quisé chorá, se num tivé triste nem doído?
Diz que Bento, esse era o nome do preto, falô que a lida do dia – Sempre dá dô no lombo, inda mais de preto já meio véio – disse que memo que dô fosse poca, tristeza passava não, porque preto sabia que n’ôtro dia ia sê iguar – Inté morrê! – mas alembrô que minino branco sofria ansim não, então interô falano que se não tivesse vontade de chorá, era só se alembrá – De Nosso Senhor – que padre falô que memo inocente, morreu pregado na encruzilhada de pau – E ói que ele nem era preto! Só isso já dá vontade de chorá.
Vô falô que foi ansim que ele aprendeu a chorá toda noite, iscundido. E era ansim que pai divia fazê. E pai feiz, inté hoje!
Escuta fio. Hoje à noite pai chora pela última veiz, depois... trabaia ocê; sua ocê; sofre ocê e chora ocê.
Pai amanheceu no caixão.
No enterro do Pai foi a última vez que vi mano chorando. Eu, como sou mulher, sempre pude chorar à vontade.
Deus me livre e guarde se o Tonho me ouvisse. Bate na madeira “treis veiz”. Mas foi assim que eu, brechando da janela, vi, e ouvi tudo que Pai disse pro mano. E foi assim que mano continuou a tradição da família dos chorões da escuridão.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Também tem vídeo musical
Vai aí o clip da música tema do projeto Ruídos e um outro que explica um pouco do que é o projeto
http://www.youtube.com/watch?v=W4PpOsnVHnY
http://www.youtube.com/watch?v=ei2oSwrtOq4
http://www.youtube.com/watch?v=W4PpOsnVHnY
http://www.youtube.com/watch?v=ei2oSwrtOq4
O Colecionador de Cacos
Pra começo de conversa, segue prólogo e o primeiro capítulo do texto no qual venho trabalhando atualmente: O Colecionador de Cacos
Muitas pessoas têm mania de colecionar coisas. Colecionar, na maioria das vezes, é uma forma de mostrar o quanto gostam daquilo.
Tem gente, por exemplo, que coleciona livros, discos, quadros. Que coleciona sapatos ou chapéus! Mas tem também quem goste de colecionar borboletas ou outros insetos mortos. Tá assim de colecionadores de tampinhas de garrafas, de selos, de revistas. Há quem recheie o quarto com fotos e mais fotos de artistas, ou ainda aqueles que gastam um dinheirão numa coleção de carros antigos!
Ufa! Existem coleções de tudo o que é coisa no mundo.
E haja espaço! E haja dinheiro! E haja paciência pra guardar tudo isso...
Vocês já tiveram alguma coleção? Já juntaram uma certa quantidade de qualquer coisa só pelo simples prazer de juntar? Eu já. Até mais de uma. Já colecionei jogos de botão, revistas, bonés... E também já vi as coleções de muitas pessoas. Mas o que eu quero contar é que conheci uma que era diferente de todas as outras.
Vocês já devem saber que, por causa do tamanho de cada uma delas, há coleções que cabem numa caixa, num álbum ou num armário. Já outras precisam de grandes salas ou mesmo de prédios inteiros para serem guardadas. Vejam o caso dos museus, por exemplo. Os mais famosos deles ocupam enormes quarteirões e têm obras que valem milhões.
Mas a coleção da qual vamos falar nessa história não precisa de muito espaço pra existir. Tenho certeza também de que ninguém pagaria por ela nem mesmo alguns centavos. Mas (é sério!) posso garantir que um visitante atento e curioso pode levar uma vida inteirinha para conseguir olhá-la direitinho e aproveitar o que cada uma de suas peças pode oferecer.
E sabem por quê essa coleção é assim... tão diferente e tão especial? Porque, na verdade, é uma coleção de cacos...
Rodrigo era um garoto normal. Morava numa cidade normal, numa casa normal, com uma família normal, sem nada nada que pudesse fazer dele uma pessoa especial com uma história interessante para um livro. Aliás, quase nada.
É que ele, sem que ninguém notasse, começou a guardar pedaços de coisas que, de alguma forma, pareciam interessantes na sua vida comum de menino comum. A primeira peça da coleção (ele se lembrava muito bem!) foi um caquinho de uma bola de árvore de natal. A bola havia quebrado ao cair no chão, quando sua mãe estava se esticando pra por a estrela bem na pontinha do pinheiro de plástico.
Rodrigo havia ficado tão impressionado com o brilho daquele pedaço de bola quebrada que, enquanto sua mãe se distraiu pegando a vassoura e a pá para limpar os cacos espalhados pelo chão, pegou um bem bonito e escondeu no bolso de sua bermuda novinha.
Ele sabia que a mãe não deixaria que ele ficasse com aquilo.
- Vai se cortar com isso, menino! - Que ela diria.
- Corta não, mãe!
- Corta sim. E joga isso fora já!
Então, assim que conseguiu disfarçar, entrou no seu quarto, pegou o caco roubado do chão e ficou admirando um tempão. Era vermelho por fora, prateado por dentro, e brilhava muito. Rodrigo percebeu que dava pra ver o seu rosto refletido nele, tanto no lado vermelho quanto no prata, mas era engraçado, porque no vermelho, sua boca ficava grandona, e no prata, ficava tudo tudo pequenininho...
Esperto que era, o menino esvaziou uma caixa onde havia um chinelinho dele e colocou nela, com todo cuidado, o caco de bola de árvore de natal. E estava começada a coleção.
Abrindo a Porta
Olá, pessoal! Bem vindos ao quartinho!
Essa é, na verdade, uma versão eletrônica das gavetas, caixas, pastas, estantes e cadernos que fui enchendo, ao longo dos anos, com poemas, crônicas, cordéis, contos, músicas, vídeos e mais um monte de coisas com alguma pretensão artística que nunca tive organização suficiente pra publicar.
Espero que gostem!
Essa é, na verdade, uma versão eletrônica das gavetas, caixas, pastas, estantes e cadernos que fui enchendo, ao longo dos anos, com poemas, crônicas, cordéis, contos, músicas, vídeos e mais um monte de coisas com alguma pretensão artística que nunca tive organização suficiente pra publicar.
Espero que gostem!
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