terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Colecionador de Cacos

Pra começo de conversa, segue prólogo e o primeiro capítulo do texto no qual venho trabalhando atualmente: O Colecionador de Cacos

Muitas pessoas têm mania de colecionar coisas. Colecionar, na maioria das vezes, é uma forma de mostrar o quanto gostam daquilo.
Tem gente, por exemplo, que coleciona livros, discos, quadros. Que coleciona sapatos ou chapéus! Mas tem também quem goste de colecionar borboletas ou outros insetos mortos. Tá assim de colecionadores de tampinhas de garrafas, de selos, de revistas. Há quem recheie o quarto com fotos e mais fotos de artistas, ou ainda aqueles que gastam um dinheirão numa coleção de carros antigos!
Ufa! Existem coleções de tudo o que é coisa no mundo.
E haja espaço! E haja dinheiro! E haja paciência pra guardar tudo isso...
Vocês já tiveram alguma coleção? Já juntaram uma certa quantidade de qualquer coisa só pelo simples prazer de juntar? Eu já. Até mais de uma. Já colecionei jogos de botão, revistas, bonés... E também já vi as coleções de muitas pessoas. Mas o que eu quero contar é que conheci uma que era diferente de todas as outras.
Vocês já devem saber que, por causa do tamanho de cada uma delas, há coleções que cabem numa caixa, num álbum ou num armário. Já outras precisam de grandes salas ou mesmo de prédios inteiros para serem guardadas. Vejam o caso dos museus, por exemplo. Os mais famosos deles ocupam enormes quarteirões e têm obras que valem milhões.
Mas a coleção da qual vamos falar nessa história não precisa de muito espaço pra existir. Tenho certeza também de que ninguém pagaria por ela nem mesmo alguns centavos. Mas (é sério!) posso garantir que um visitante atento e curioso pode levar uma vida inteirinha para conseguir olhá-la direitinho e aproveitar o que cada uma de suas peças pode oferecer.
E sabem por quê essa coleção é assim... tão diferente e tão especial? Porque, na verdade, é uma coleção de cacos...


Rodrigo era um garoto normal. Morava numa cidade normal, numa casa normal, com uma família normal, sem nada nada que pudesse fazer dele uma pessoa especial com uma história interessante para um livro. Aliás, quase nada.
É que ele, sem que ninguém notasse, começou a guardar pedaços de coisas que, de alguma forma, pareciam interessantes na sua vida comum de menino comum. A primeira peça da coleção (ele se lembrava muito bem!) foi um caquinho de uma bola de árvore de natal. A bola havia quebrado ao cair no chão, quando sua mãe estava se esticando pra por a estrela bem na pontinha do pinheiro de plástico.
Rodrigo havia ficado tão impressionado com o brilho daquele pedaço de bola quebrada que, enquanto sua mãe se distraiu pegando a vassoura e a pá para limpar os cacos espalhados pelo chão, pegou um bem bonito e escondeu no bolso de sua bermuda novinha.
Ele sabia que a mãe não deixaria que ele ficasse com aquilo.
- Vai se cortar com isso, menino! - Que ela diria.
- Corta não, mãe!
- Corta sim. E joga isso fora já!
Então, assim que conseguiu disfarçar, entrou no seu quarto, pegou o caco roubado do chão e ficou admirando um tempão. Era vermelho por fora, prateado por dentro, e brilhava muito. Rodrigo percebeu que dava pra ver o seu rosto refletido nele, tanto no lado vermelho quanto no prata, mas era engraçado, porque no vermelho, sua boca ficava grandona, e no prata, ficava tudo tudo pequenininho...
Esperto que era, o menino esvaziou uma caixa onde havia um chinelinho dele e colocou nela, com todo cuidado, o caco de bola de árvore de natal. E estava começada a coleção.  

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